{Café com autores} - Jorge H. Coelho - Livros e Sussurros

{Café com autores} - Jorge H. Coelho

Publicado em sexta-feira, 7 de julho de 2017


Para leitores de Noite Selvagem, hoje trazemos a vocês o autor do livro - Jorge H. Coelho -  que essa semana chegou a 1K de visualizações no Wattpad, conversamos com ele sobre sua obra e carreira.





Jorge,2016
L&S : Quando percebeu que o seu destino era ser escritor?

JORGE : Considerando que não acredito em destino, acho melhor falar de quando percebi que na escrita eu tinha um “porto seguro”, por assim dizer. Em 2011 comecei a me arriscar pela prosa como algo a se fazer nas horas de tédio. Antes eu escrevia muita poesia, mas prosa só quando aparecia alguma atividade na escola que exigia isso de mim – cheguei até e tentar ser cronista, certa vez, de todas as coisas do mundo, mas eu juro que pra isso não levo jeito de forma alguma.
Em 2014 consegui um contrato para publicar um livro, o “Amizade e Caos”, isso meio que passou pra mim a confiança que faltava pra falar mais abertamente sobre essa minha atividade extracurricular, por assim dizer.


L&S : De onde vem os personagens? De alguma forma se relacionam com alguém que conhece?

JORGE : Meus personagens costumam ser fusões de características de pessoas que eu conheço e algumas vezes passam por algumas situações parecidas com coisas que eu presenciei, vivi ou algum amigo narrou pra mim. Porém não tenho um personagem que seja cem por cento alguém que eu conheço, talvez por eu ser um pouco supersticioso e ter medo de “aprisionar” alguém numa história – quem entendeu a referência a “Stranger than fiction” me dá um alô.


L&S : Qual o seu livro e autor favorito? Guia-se por eles na escrita de seus livros?    
      
JORGE : Clube da Luta tem de ser o meu livro favorito. O Chuck Palahniuk com certeza é o meu autor preferido, tanto na forma de escrever, que me influenciou bastante no começo, quanto na forma como ele se mostra enquanto escritor, sabe? Ele é um cara que já fez e faz bastante sucesso, mas parece extremamente humilde, como se ainda não se desse conta do quanto é admirado por aí.
É o tipo de pessoa que eu olho e penso “se um dia eu for famoso, quero ser assim”.


L&S : Enquanto está escrevendo, partilha a história com alguém para pedir conselhos?

JORGE : Alguns (poucos) amigos e minha namorada, que acaba com spoilers de todas as surpresas que acontecem no que eu escrevo, antes mesmo que eu escreva. Sinceramente nem sei como ela ainda se dá ao trabalho de ler o material produzido.


L&S : Quanto tempo demorou a escrever seu livro?

JORGE: O “Noite Selvagem” eu passei três ou quatro meses para fazer, mas pelo tipo de história, que se passa em aproximadamente 13 horas corridas, muito desse tempo foi planejamento, mas a escrita do material levou em torno três dias, eu acho. Mas eu estava inspirado, tinha tempo e digito relativamente rápido, por vezes conseguindo quarenta páginas numa noite. Parece até mentira quando eu conto, mas...


L&S : Qual é a história dos seus livros?

JORGE : Eu acabei criando um universo então, no fim das contas, se juntar tudo o que eu já escrevi, dá pra compreender mais desse funcionamento. É uma influência que eu trago de minha aproximação com o trabalho do Tarantino que, embora seja cineasta, também teve um pé de influência nas coisas que eu acabo tirando da cachola.
“Amizade e Caos”, como o nome já acaba deixando bem explícito – devido à minha completa incapacidade de dar nome ao que escrevo – fala sobre amizades e como algumas escolhas e acontecimentos que fogem ao nosso controle acabam por fazer com que as pessoas se aproximem e se afastem, sempre mudando a configuração das nossas relações sociais. Mas também fala de amor, sexo, crime... E diretamente ligados a ele, tem mais dois livros que eu ainda não terminei de fazer releituras para, finalmente, disponibilizar para o mundo.
“Noite Selvagem” surgiu quase que como um spin-off de “Amizade e Caos”, se passa na mesma cidade e durante um dos capítulos desse livro. Porém com personagens novos. A ideia era escrever uma história que se desenrolasse de forma rápida e sem muito tempo para que os “heróis” pensassem sobre o que estava acontecendo. É sobre amizade, mas é bem mais sobre lutas internas e crescimento pessoal, eu diria.


L&S : Como surgiu a ideia de produzir um livro?

JORGE : Acho que quis fazer uma homenagem a todas aos meus companheiros de farra, algumas pessoas que, inclusive, me deram muito apoio quando lancei o primeiro livro, então peguei memórias de algumas noitadas e fui moldando, removendo algumas coisas e acrescentando outras que não aconteceram. Mas também teve influência do filme “Warriors”, na verdade do título traduzido “Os selvagens da noite”, que embora seja sobre gangues, também é um bom exemplo de companheirismo e união, então daí eu peguei a inspiração pelo menos para o título.


L&S : Algum personagem tem um pouco mais da sua personalidade? Qual?

JORGE : Diz a minha namorada que o Renato (Noite Selvagem) sou eu, mas eu discordo. Por outro lado, considerando que eu é que escrevi os personagens, ele também tem um pouco de mim, sejam defeitos ou qualidades.


L&S : Você sempre foi escritor? Como surgiu a vontade de escrever profissionalmente?

JORGE : Acho que sempre fui contador de histórias. Já me aventurei por várias formas de fazer isso, fosse teatro, desenho... A escrita, porém, eu acho que nunca verei como profissão, mas como um passatempo que, vez ou outra, produz material que dá pra mostrar pros outros sem medo de ser feliz.


L&S Qual foi a maior dificuldade encontrada ao escrever os livros?

JORGE: Sem dúvida é fazer a inspiração que está ali, na cabeça, passar para o papel. Às vezes a cena está ali, toda montada, mas na hora de expressar em palavras fica cada vez mais complicado. Há momentos em que todo um capítulo parece estúpido, mal construído e aí a gente fica estagnado.


L&S : Quais dicas você dá para quem quer iniciar a carreira de escritor?

JORGE : Escreva sobre o que quiser e como quiser. Fale palavrão, desafie as convenções. Evite escrever para os outros, escreva algo que você gostaria de ler e nunca encontrou por aí. E se no começo não conseguir o apoio e a visibilidade que esperava, continue escrevendo. Posso estar romantizando as coisas, mas acredito que temos que escrever, em primeiro lugar, pelo prazer que aquilo nos dá e não pela consequência externa daquilo, que seriam os elogios e o sucesso – para quem os consegue, claro.


L&S : Quais são os amores e as dores dessa profissão?

JORGE : Certamente uma dor é a autocrítica. A galera, eu incluso, se cobra muito o tempo inteiro. Nada está bom, muitas vezes. Mas isso também pode ser uma coisa boa se administrado de forma correta.
Outra coisa bem chata é a dificuldade que se tem para divulgar o material e lidar com a frustração de, por vezes, não ser tão notado quanto se acredita que deveria ser. Existe o fato de que muita gente gosta de ler, mas não valoriza os escritores “menores” – assim como gostam de música e não apoiam os músicos locais, por exemplo.
Quanto aos amores... Uma coisa que me deixa muito empolgado é quando algumas pessoas que eu nem sonhava que estavam lendo algo meu vem comentar comigo sobre algum personagem ou perguntar quando tem livro novo. É uma apreciação que sempre faz brotar um sorriso no rosto.

E quando eu publiquei o primeiro livro, que foi físico, um grupo de amigos que eu jamais esperei ver por lá, foi ao evento de lançamento e ainda adquiriram exemplares. Fora que nos primeiros meses eu ouvia comentários tipo “emprestei para um amigo meu que está adorando”, era a sensação de que o que eu escrevi estava atingindo pessoas que eu nunca vi antes. É algo especial.





Entrevistador: Joyce Almeida

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