Para leitores de Noite Selvagem, hoje trazemos a vocês o autor do livro - Jorge H. Coelho - que essa semana chegou a 1K de visualizações no Wattpad, conversamos com ele sobre sua obra e carreira.
Jorge,2016 |
L&S : Quando percebeu que o seu destino era ser
escritor?
JORGE : Considerando que não acredito em destino, acho melhor falar de quando
percebi que na escrita eu tinha um “porto seguro”, por assim dizer. Em 2011
comecei a me arriscar pela prosa como algo a se fazer nas horas de tédio. Antes
eu escrevia muita poesia, mas prosa só quando aparecia alguma atividade na
escola que exigia isso de mim – cheguei até e tentar ser cronista, certa vez,
de todas as coisas do mundo, mas eu juro que pra isso não levo jeito de forma
alguma.
Em 2014 consegui um contrato para publicar um livro, o “Amizade e Caos”,
isso meio que passou pra mim a confiança que faltava pra falar mais abertamente
sobre essa minha atividade extracurricular, por assim dizer.
L&S : De onde vem os personagens? De alguma forma se
relacionam com alguém que conhece?
JORGE : Meus personagens costumam ser fusões de características de pessoas que
eu conheço e algumas vezes passam por algumas situações parecidas com coisas
que eu presenciei, vivi ou algum amigo narrou pra mim. Porém não tenho um
personagem que seja cem por cento alguém que eu conheço, talvez por eu ser um
pouco supersticioso e ter medo de “aprisionar” alguém numa história – quem
entendeu a referência a “Stranger than fiction” me dá um alô.
L&S : Qual o seu livro e autor favorito? Guia-se por
eles na escrita de seus livros?
JORGE : Clube da Luta tem de ser o meu livro favorito. O Chuck Palahniuk com
certeza é o meu autor preferido, tanto na forma de escrever, que me influenciou
bastante no começo, quanto na forma como ele se mostra enquanto escritor, sabe?
Ele é um cara que já fez e faz bastante sucesso, mas parece extremamente
humilde, como se ainda não se desse conta do quanto é admirado por aí.
É o tipo de pessoa que eu olho e penso “se um dia eu for famoso, quero
ser assim”.
L&S : Enquanto está escrevendo, partilha a história
com alguém para pedir conselhos?
JORGE : Alguns (poucos) amigos e minha namorada, que acaba com spoilers de todas
as surpresas que acontecem no que eu escrevo, antes mesmo que eu escreva.
Sinceramente nem sei como ela ainda se dá ao trabalho de ler o material
produzido.
L&S : Quanto tempo demorou a escrever seu livro?
JORGE: O “Noite Selvagem” eu passei três ou quatro meses para fazer, mas pelo
tipo de história, que se passa em aproximadamente 13 horas corridas, muito
desse tempo foi planejamento, mas a escrita do material levou em torno três
dias, eu acho. Mas eu estava inspirado, tinha tempo e digito relativamente
rápido, por vezes conseguindo quarenta páginas numa noite. Parece até mentira
quando eu conto, mas...
L&S : Qual é a história dos seus livros?
JORGE : Eu acabei criando um universo então, no fim das contas, se juntar tudo o
que eu já escrevi, dá pra compreender mais desse funcionamento. É uma
influência que eu trago de minha aproximação com o trabalho do Tarantino que,
embora seja cineasta, também teve um pé de influência nas coisas que eu acabo
tirando da cachola.
“Amizade e Caos”, como o nome já acaba deixando bem explícito – devido à
minha completa incapacidade de dar nome ao que escrevo – fala sobre amizades e
como algumas escolhas e acontecimentos que fogem ao nosso controle acabam por
fazer com que as pessoas se aproximem e se afastem, sempre mudando a
configuração das nossas relações sociais. Mas também fala de amor, sexo,
crime... E diretamente ligados a ele, tem mais dois livros que eu ainda não
terminei de fazer releituras para, finalmente, disponibilizar para o mundo.
“Noite Selvagem” surgiu quase que como um spin-off de “Amizade e Caos”,
se passa na mesma cidade e durante um dos capítulos desse livro. Porém com
personagens novos. A ideia era escrever uma história que se desenrolasse de
forma rápida e sem muito tempo para que os “heróis” pensassem sobre o que
estava acontecendo. É sobre amizade, mas é bem mais sobre lutas internas e
crescimento pessoal, eu diria.
L&S : Como surgiu a ideia de produzir um livro?
JORGE : Acho que quis fazer uma homenagem a todas aos meus companheiros de
farra, algumas pessoas que, inclusive, me deram muito apoio quando lancei o
primeiro livro, então peguei memórias de algumas noitadas e fui moldando,
removendo algumas coisas e acrescentando outras que não aconteceram. Mas também
teve influência do filme “Warriors”, na verdade do título traduzido “Os
selvagens da noite”, que embora seja sobre gangues, também é um bom exemplo de
companheirismo e união, então daí eu peguei a inspiração pelo menos para o
título.
L&S : Algum personagem tem um pouco mais da sua
personalidade? Qual?
JORGE : Diz a minha namorada que o Renato (Noite Selvagem) sou eu, mas eu
discordo. Por outro lado, considerando que eu é que escrevi os personagens, ele
também tem um pouco de mim, sejam defeitos ou qualidades.
L&S : Você sempre foi escritor? Como surgiu a
vontade de escrever profissionalmente?
JORGE : Acho que sempre fui contador de histórias. Já me aventurei por várias
formas de fazer isso, fosse teatro, desenho... A escrita, porém, eu acho que
nunca verei como profissão, mas como um passatempo que, vez ou outra, produz
material que dá pra mostrar pros outros sem medo de ser feliz.
L&S Qual foi a maior dificuldade encontrada ao
escrever os livros?
JORGE: Sem dúvida é fazer a inspiração que está ali, na cabeça, passar para o
papel. Às vezes a cena está ali, toda montada, mas na hora de expressar em
palavras fica cada vez mais complicado. Há momentos em que todo um capítulo
parece estúpido, mal construído e aí a gente fica estagnado.
L&S : Quais dicas você dá para quem quer iniciar a
carreira de escritor?
JORGE : Escreva sobre o que quiser e como quiser. Fale palavrão, desafie as
convenções. Evite escrever para os outros, escreva algo que você gostaria de
ler e nunca encontrou por aí. E se no começo não conseguir o apoio e a
visibilidade que esperava, continue escrevendo. Posso estar romantizando as
coisas, mas acredito que temos que escrever, em primeiro lugar, pelo prazer que
aquilo nos dá e não pela consequência externa daquilo, que seriam os elogios e
o sucesso – para quem os consegue, claro.
L&S : Quais são os amores e as dores dessa
profissão?
JORGE : Certamente uma dor é a autocrítica. A galera, eu incluso, se cobra muito
o tempo inteiro. Nada está bom, muitas vezes. Mas isso também pode ser uma
coisa boa se administrado de forma correta.
Outra coisa bem chata é a dificuldade que se tem para divulgar o
material e lidar com a frustração de, por vezes, não ser tão notado quanto se
acredita que deveria ser. Existe o fato de que muita gente gosta de ler, mas
não valoriza os escritores “menores” – assim como gostam de música e não apoiam
os músicos locais, por exemplo.
Quanto aos amores... Uma coisa que me deixa muito empolgado é quando
algumas pessoas que eu nem sonhava que estavam lendo algo meu vem comentar
comigo sobre algum personagem ou perguntar quando tem livro novo. É uma
apreciação que sempre faz brotar um sorriso no rosto.
E quando eu publiquei o primeiro livro, que foi físico, um grupo de
amigos que eu jamais esperei ver por lá, foi ao evento de lançamento e ainda
adquiriram exemplares. Fora que nos primeiros meses eu ouvia comentários tipo
“emprestei para um amigo meu que está adorando”, era a sensação de que o que eu
escrevi estava atingindo pessoas que eu nunca vi antes. É algo especial.
Entrevistador: Joyce Almeida
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